sexta-feira, 18 de abril de 2008

O dia em que entrei mudo e saí calado

Sufoco na Vila Belmiro
O caso que vou contar esta semana, como sempre verídico (de verdade mesmo), não tem lá ligação direta com o turfe. Na verdade, se passou quando estive em São Vicente, mas foi um dos piores momentos que enfrentei na vida, um verdadeiro sufoco. Tem ligação com outra das minhas paixões (sempre fui de me apaixonar). O turfe é uma delas e todos já estão até cansados de ouvir a minha história. Outra, que não escondo de ninguém, é o Flamengo. Tanto que me contaram, não tenho como lembrar, que quando nasci, ao receber o tradicional tapa na bufanza, ao invés de abrir o berreiro, como todo bebê, gritei Mengooooooo!

Enfim, vamos ao sufoco propriamente dito. Quando fui treinar em São Vicente, uma das boas amizades que fiz foi com o Benedito, o “Dito” para os amigos. Era um cara baixinho, atarracado, forte pra caramba, que explorava a cantina do hipódromo. Gente da melhor qualidade e fiava o café com leite, pela manhã, quando a grana era curta. Santista roxo, tinha pôster do time espalhado pelo barzinho, fotos do Pelé e tudo mais. Se não bastasse a “encarnação” dos corintianos, palmeirenses e sãopaulinos do local, agora aparecera um carioca pra perturbar o já invocado torcedor do “peixe”.

Mas até que ele levava numa boa. Foi aí que o bicho pegou e eu me meti numa furada do tamanho do mundo. O ano era de 1981 e Flamengo e Santos iam disputar uma vaga para prosseguir na Taça Libertadores (naquele ano o Mengo foi campeão). Chega o Dito e diz pra mim: “Ô carioca, vamos ao jogo hoje, já comprei os ingressos”. Recusar o convite para ver o rubro-negro era impossível, ainda mais com Zico, Andrade, Adílio, Leandro, Junior e todo aquele timaço. Aí foi o meu erro.

Fim de tarde, fecho a cocheira e lá vou eu com meu amigo para a Vila Belmiro. Chegamos ao estádio e vou parar no meio da torcida do Santos. Os caras babavam e gritavam mais que hienas no cio e eu lá, quieto. Começa o jogo e permaneço mudo, sem me mexer. Foi quando o Flamengo quase abre o placar e ameacei mandar o tradicional: “Uhhhh”. De imediato o Dito virou-se pra mim, em voz baixa, e sussurou: “Malandro, se o Flamengo fizer gol e você comemorar, eu mesmo te mato, para evitar um linchamento”. Resumo da história, o Flamengo ganhou de 2 a 1 e, pela primeira vez na vida, num jogo do time do coração, entrei mudo e saí calado.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

O "poker" movido a álcool

O dia em que lesaram um inocente

Uma das formas de comemorar uma boa vitória, no turfe, sempre foi a realização de um amigável e suculento churrasco, na cocheira, numa confraternização com os amigos. Custo muito a atualizar o blog do matungo pela falta de tempo e de memória, uma vez que gosto de contar aqui apenas histórias verídicas (de verdade mesmo). Mas, voltando ao local do crime, um dia destes, lembrei-me de um episódio em que fui vítima de um complô maquiavélico, promovido por amigos, o que dói ainda mais. Poderia deixar de contar o fato humilhante, mas como todos merecem tomar conhecimento deste acontecimento covarde e absurdo, decidi passar adiante. Não vou citar o local nem os protagonistas desta maldade.

Um daqueles matunguinhos que ao longo do tempo defenderam a farda do bucéfalo aqui, venceu com pule boa, reforçando o caixa matunguiniano e decidi comemorar com um grupo de “amigos” e o pessoal da cocheira. Seria num sábado, após as corridas. Tudo providenciado, carne de primeira e um churrasqueiro contratado, foram emitidos os convites e garantida aquela que desce redondo. Churrasco que se preza, sem “loura gelada” não é churrasco. Nas corridas daquele dia, o matungo iluminado acertou uma boa acumulada e o bolso estava recheado, para a alegria geral da nação. Fim das carreiras e vamos pra cocheira. Ainda no prado, comemorando o acerto, algumas latinhas por conta.

Já meio abastecido, o matungo recebeu os amigos e tome carne e cerveja. Lá pelo meio do caminho, “ventava” forte pros lado do bucéfalo, que em certo momento começou a conversar com um cavalo e também com alguns boxes vazios, o que era preocupante. Um dos empregados chegou ao treinador e disse que eu estava pra lá de Bagdá. Aí que o complô foi armado. Alguns amigos, no escritório da cocheira, participavam de um pokerzinho amigável e foram buscar o pobre matungo, de bolso cheio, para participar daquilo que seria um golpe traumático.

Resumindo a história. Em menos de uma hora tomaram toda a minha grana e ainda me convidaram para voltar na semana seguinte, para tentar recuperar a bufunfa suada, obtida na acumulada tão bem elaborada. Saí da cocheira quase de madrugada, bêbado e duro. Tive me valer da carona de um dos “criminosos”, que com a maior cara-de-pau do mundo ainda me disse que o Poker era assim mesmo, pois um dia dava tudo certo e outro, tudo errado. Do pouco que me lembro daquele dia, o melhor momento foi aquele em que os “parceiros”, às gargalhadas, dividiam a minha grana após o término da jogatina.