Há algumas décadas, quando ainda nem se sonhava com os agentes credenciados, e muito menos com as transmissões das corridas pela televisão, os turfistas que moravam longe do hipódromo, faziam suas apostas nos corretores zoológicos. Naquele tempo, existam os “pontos” em cada esquina e todos bancavam as corridas. O pessoal apostava no talão mais honesto que existia e partia para ouvir os páreos no rádio.
Seu Manoel, que morava no subúrbio, era apaixonado pelo turfe e sempre fazia suas apostas na esquina de seu armazém. Tinha alguns jóqueis de preferência, e um deles era o José Portilho, um dos craques da época. Nas redondezas vivia o Zé da Pule, malandro conhecido e um tremendo “virador”. Contava histórias, dava barbadas e sempre “mordia” o pessoal da área. Vivia dizendo que freqüentava a Gávea e conhecia muitos jóqueis etc...Papo de malandro mesmo. E este Zé estava devendo uma nota para o Seu Manoel, que nunca lhe dava ouvidos sobre barbadas.
Aí, o malandro teve uma idéia que poderia resolver todos os problemas. Chamou outro desocupado como ele, também viciado nas corridas, magrinho, com peso de jóquei e disse: Vais passar pelo Portilho. Seu Manoel nunca tinha ido a Gávea e era só caprichar no papo que o assunto estaria resolvido. E lá foi o Zé da Pule, com aquele papo de malandro, ao armazém, acompanhado do “jóquei”. Entrou e com a cara mais lavada deste mundo, falou: “Seu Manel”, vim lhe proporcionar uma grande alegria, aqui está o José Portilho.

O portuga ficou meio cabreiro e resolveu testar o cara, que já tinha decorado a vida do piloto de trás para frente. Convencido, o homem já sacou logo uma lata de azeite para presentear o ídolo.
E daí em diante o falso Portilho passou a informar o comerciante sobre “suas montarias” e, por mais incrível que pareça, acertava quase tudo e o homem já estava quase “quebrando a banca” da esquina. E, como recompensa, dinheiro e mantimentos para o Zé da Pule. Numa certa corrida, o verdadeiro Portilho tinha sete montarias e o seu genérico mandou Manoel apostar em quatro. Ganharam todos e o faturamento foi alto. Emocionado, sem dizer nada, Seu Manoel resolveu fazer uma surpresa ao amigo. Sacou uma garrafa de seu melhor vinho do Porto, tomou um táxi e foi ao hipódromo entregar o presente em mãos.
Ao chegar à Gávea, pediu para falar com o Portilho e assim que o verdadeiro foi a seu encontro, o homem riu e disse: “Ó pá, tu não és o Portilho, deixa de onda”. Depois de vários testemunhos, Manoel entendeu a situação. Ficou louco por ter sido enganado, esbravejou e foi acalmado pelo jóquei verdadeiro, que acabou se comprometendo em ligar para ele e falar, realmente, sobre suas montarias.
De volta ao subúrbio, encontra o Zé da Pule e ataca-o com vassouradas, tamancadas, chutes e até o gato do armazém ele atirou no Zé, que acabou se mudando do bairro e sumindo de circulação. O verdadeiro José Portilho passou a informar o Manoel sobre suas montarias durante uns seis meses. E o homem nunca mais acertou nada e quase perdeu o armazém. Dizem que, durante um ano, o pobre coitado percorreu as ruas da cidade atrás do “falso” Portilho...