quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

O “genérico” do Portilho

Há algumas décadas, quando ainda nem se sonhava com os agentes credenciados, e muito menos com as transmissões das corridas pela televisão, os turfistas que moravam longe do hipódromo, faziam suas apostas nos corretores zoológicos. Naquele tempo, existam os “pontos” em cada esquina e todos bancavam as corridas. O pessoal apostava no talão mais honesto que existia e partia para ouvir os páreos no rádio.

Seu Manoel, que morava no subúrbio, era apaixonado pelo turfe e sempre fazia suas apostas na esquina de seu armazém. Tinha alguns jóqueis de preferência, e um deles era o José Portilho, um dos craques da época. Nas redondezas vivia o Zé da Pule, malandro conhecido e um tremendo “virador”. Contava histórias, dava barbadas e sempre “mordia” o pessoal da área. Vivia dizendo que freqüentava a Gávea e conhecia muitos jóqueis etc...Papo de malandro mesmo. E este Zé estava devendo uma nota para o Seu Manoel, que nunca lhe dava ouvidos sobre barbadas.

Aí, o malandro teve uma idéia que poderia resolver todos os problemas. Chamou outro desocupado como ele, também viciado nas corridas, magrinho, com peso de jóquei e disse: Vais passar pelo Portilho. Seu Manoel nunca tinha ido a Gávea e era só caprichar no papo que o assunto estaria resolvido. E lá foi o Zé da Pule, com aquele papo de malandro, ao armazém, acompanhado do “jóquei”. Entrou e com a cara mais lavada deste mundo, falou: “Seu Manel”, vim lhe proporcionar uma grande alegria, aqui está o José Portilho. O portuga ficou meio cabreiro e resolveu testar o cara, que já tinha decorado a vida do piloto de trás para frente. Convencido, o homem já sacou logo uma lata de azeite para presentear o ídolo.

E daí em diante o falso Portilho passou a informar o comerciante sobre “suas montarias” e, por mais incrível que pareça, acertava quase tudo e o homem já estava quase “quebrando a banca” da esquina. E, como recompensa, dinheiro e mantimentos para o Zé da Pule. Numa certa corrida, o verdadeiro Portilho tinha sete montarias e o seu genérico mandou Manoel apostar em quatro. Ganharam todos e o faturamento foi alto. Emocionado, sem dizer nada, Seu Manoel resolveu fazer uma surpresa ao amigo. Sacou uma garrafa de seu melhor vinho do Porto, tomou um táxi e foi ao hipódromo entregar o presente em mãos.

Ao chegar à Gávea, pediu para falar com o Portilho e assim que o verdadeiro foi a seu encontro, o homem riu e disse: “Ó pá, tu não és o Portilho, deixa de onda”. Depois de vários testemunhos, Manoel entendeu a situação. Ficou louco por ter sido enganado, esbravejou e foi acalmado pelo jóquei verdadeiro, que acabou se comprometendo em ligar para ele e falar, realmente, sobre suas montarias.

De volta ao subúrbio, encontra o Zé da Pule e ataca-o com vassouradas, tamancadas, chutes e até o gato do armazém ele atirou no Zé, que acabou se mudando do bairro e sumindo de circulação. O verdadeiro José Portilho passou a informar o Manoel sobre suas montarias durante uns seis meses. E o homem nunca mais acertou nada e quase perdeu o armazém. Dizem que, durante um ano, o pobre coitado percorreu as ruas da cidade atrás do “falso” Portilho...

2 comentários:

Anônimo disse...

Matungo... assim vc me mata de rir...
Por isso que eu digo, tem joquei que nao sabe de nada mesmo... kkkkkkkkkkkk

Fui!

Karol Loureiro

Anônimo disse...

Prezado Matungão, histórias de trufistas são sempre sensacionais. O cinema americano já explorou o assunto algumas vezes, mas o cinema brazuka ainda deve um bom filme sobre o tema.


Amilsom Rodrigues